Após da utilização da água potável e sua consequente transformação em esgoto, as estações de tratamento de esgoto concentram a poluição remanescente no lodo, antes de devolver à natureza os efluentes tratados. O lodo de esgoto é, portanto, o ultimo resíduo do ciclo urbano da água.
O lodo de esgoto é um resíduo sólido de composição variável, rico em matéria orgânica, que é separado da fase liquida nos processos de tratamento nas ETE’s- Estações de Tratamento de Esgoto através da decantação ou da flotação. Normalmente nos sistemas de tratamentos adotados no Brasil, a média de produção é de 17,5kg/ano de lodo seco por habitante, equivalentes 24t dia de lodo com 20% de sólidos para cada 100000 habitantes. Em Itu, a ETE Canjica que trata os esgotos gerados no município com exceção do Bairro Pirapitingui e Zona Rural gera mensalmente 450 toneladas de lodo de esgoto com 20% de Sólidos.
No Brasil, considerando uma população urbana de aproximadamente 170 milhões, caso fosse universalizado o tratamento de esgoto, a geração de lodo giraria em torno de 3 milhões de toneladas ano de matéria orgânica advinda do lodo de esgoto que deverão ser dispostas adequadamente.
Atualmente as principais alternativas de tratamento e destinação final de lodos de esgoto incluem sua disposição em aterros sanitários, aterros industriais, incineração, disposição oceânica (essa técnica tende a ser banida em função do Tratado Internacional Oceânico), recuperação de áreas degradadas, uso como fertilizante em grandes culturas, reflorestamento e landfarming.
Dessas soluções, a classe agronômica aposta na reciclagem agrícola pois transforma o lodo em um insumo agrícola, contribuindo para fechar o ciclo bioquímico dos nutrientes minerais, fornecendo matéria orgânica ao solo, estocando o Carbono na forma de compostos estáveis e não liberando o CO2 para a atmosfera diminuindo emissões de gases de efeito estufa.
No Brasil, a questão do destino final do lodo de esgoto permaneceu esquecida até recentemente, quando modernas e eficientes estações de tratamento de esgotos foram instaladas, sem qualquer proposta do que fazer com o lodo gerado. Em certos casos o lodo foi acumulado nas áreas próximas às estações, com riscos ambientais imprevisíveis. A falta de uma alternativa segura de tratamento e destino final do lodo gerado em uma ETE pode anular, parcialmente, os benefícios do saneamento.
Quando usado como insumo agrícola, o lodo passa a ser fonte de matéria orgânica, macro e micro- nutrientes para o solo, conferindo-lhe maior capacidade de retenção de água, maior resistência à erosão, com diminuição do uso de fertilizantes minerais e possivelmente propiciando maior resistência das plantas aos fitopatógenos.
Pelo fato do lodo também conter microrganismos patogênicos, sua disposição no solo, sem qualquer tratamento, pode colocar em risco a saúde pública. Há portanto que se utilizar técnicas que promovam a desinfecção do resíduo, sendo a compostagem e a aplicação de cal técnicas amplamente conhecidas, de alta praticidade e custos exequíveis.
A aplicação de resíduos de esgoto é conhecida desde a Antiguidade, quando nos arredores de Roma havia um local conhecido pelo nome de cloaca maxima para onde confluíam os esgotos da cidade e os agricultores podiam coletar o resíduo e usar em suas lavouras.
Atualmente o Brasil acumula vasta experiência no estudo do uso agrícola do lodo de esgoto para o qual dá-se o nome de “biossólido”.
A Embrapa, o IAC Instituto Agronômico de Campinas, a SABESP, a SANEPAR- Saneamento do Paraná e a CAESB – Saneamento de Brasília e a Companhia de Saneamento de Jundiaí desenvolveram grande expertise no uso agrícola do lodo de esgoto.
A legislação federal que rege o assunto é a Resolução CONAMA 375/2006 https://www.tratamentodeagua.com.br/artigo/conselho-nacional-do-meio-ambiente-resolucao-no-375-de-29-de-agosto-de-2006/ e a norma paulista que rege o assunto é a P4230 da CETESB https://cetesb.sp.gov.br/normas-tecnicas-cetesb/
Autor: Luiz Carlos Mazini
Eng. Agrônomo
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Olá! Queria saber qual a referência da afirmação: ” […] a média de produção é de 17,5kg/ano de lodo seco por habitante, equivalentes 24t dia de lodo com 20% de sólidos para cada 100000 habitantes.” Agradeço desde já e parabenizo pelo texto!!
Boa noite, só agora vi o questionamento.
Vou tentar explicar:
Os orgãos de saneamento e instituições de pesquisa em saneamento indicam que o brasileiro medio, produz aproximadamente 17,5kg por ano de materia organica seca (lodo de esgoto seco sem umidade) esse numero dividido por 365 dias do ano perfaz 47,94 gramas de lodo seco por dia por habitante.
O texto procurou fazer uma analogia com um município de 100000 habitantes que possui uma ETE que produza diariamente 24 toneladas de lodo com 20% de sólidos. Isso equivale a 24000000 gramas de lodo x 20%= 480000 gramas de lodo seco que divididos por 100000 habitantes é igual a 48 gramas.
Espero poder ter sanado a duvida do leitor e fico à disposição.
Luiz Carlos Mazini
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