Esta é uma pergunta que acredito, muitos a fazem há muito tempo.
Vamos aqui tentar visualizar se há ao menos uma pequena luz ao fim do túnel.
Na nossa região de Itu e Salto, o Rio Tiete passa quase morto, moribundo digamos.
De acordo com os dados do relatório das Águas Internas do Estado de São Paulo de 2019, emitida pela Cetesb, o ponto de avaliação em Salto (TIET02350) o IQA – Índice de Qualidade das Águas do ponto era RUIM.
Também o relatório “Observando o Tietê” de 2019 da SOS Mata Atlântica também indica IQA regular em Itu e ruim em Salto. Além destes dados a simples observação in loco já é suficiente para ver e sentir o odor que mostra a situação ruim do rio.
Ou seja, se o rio fosse uma pessoa enferma estaria com altas comorbidades, com o agravante de periodicamente sofrer uma parada cardiorrespiratória e desfalecer por um certo tempo.
Isso ocorre cada vez que aparece a lama negra no rio em, como no último dia 2/9/2021, em Salto. Porém não foi a primeira nem deve ser a última vez. Fatos semelhantes se repetiram em 2018, 2014.
Depois de alguns dias diminui a macha e o nosso paciente, o rio, ressuscita pelas bençãos da natureza e volta a ser apenas um rio moribundo.
Mas porque isso ocorre?
Vamos tentar explicar:
A grande São Paulo é habitada por mais de 21,5 milhões de habitantes.
E para onde vai o esgoto gerado por essa população?
Bom, uma parte é tratado e vai para o Rio Tiete e a outra parte que não é tratada vai para o Rio Tiete, também…, mas quanto é cada parte?
Vamos procurar analisar os dados de 11 das principais cidades da RMSP – Região Metropolitana de São Paulo que corresponde a 84% da população da RMSP.
Só essas cidades representam cerca de 8 Milhão de habitantes sem tratamento de esgoto, o que corresponderia, fazendo uma extrapolação simples a 9,6 Milhões de habitantes da RMSP, sem tratamento de esgoto.
Esse esgoto é misturado com o tratado e acaba consumindo o oxigênio dissolvido da parcela que o esgoto tratado tem quando sai das ETEs – Estações de Tratamento de Esgoto da grande SP, porém é insuficiente para depurar a parcela não tratada. Esse esgoto não tratado passa ainda por um tratamento natural composto por duas “lagoas” anaeróbicas antes de chegar na nossa região.
A saber: as duas lagoas são as conhecidas barragens de Pirapora e Edgard de Souza respectivamente em Pirapora de Bom Jesus e Santana de Parnaíba, administradas pelo EMAE que funcionam naturalmente como ETEs Anaeróbicas.
O IQA dessas barragens é ruim para a barragem Pirapora (TIPI04900) e péssima para a barragem Edgard de Souza (TIES4900), também de acordo com a Cetesb 2019).
Nestas barragens ocorre um fenômeno natural de digestão anaeróbica devido a ausência de oxigênio.
As bactérias anaeróbicas se alimentam de matéria orgânica (esgoto) e produzem lodo. O lodo característico de estações anaeróbicas é tipicamente da cor cinza escuro a preto.
Então, quando o gerenciamento das barragens precisa abri-las de forma abrupta para evitar enchentes do Rio Tiete na capital devido às chuvas fortes, essa lama negra pode ser arrastada rio abaixo, provocando o fenômeno visível no rio de tempos em tempos.
Mas a pergunta inicial era, quando o Rio Tiete vai melhorar?
A resposta mais direta é quando o esgoto desses 9,6 Mi de habitantes da grande SP for tratado.
A perspectiva pode se concretizar no futuro, pois a principal gestora do tratamento de esgoto daquela região é a Sabesp. Dos 39 municípios da RMSP, 36 são geridos pela SABESP, que tem investido de forma contínua na universalização do saneamento nas áreas de sua atuação.
Exemplo de avanços concretos são as cidades de Guarulhos e Osasco que juntas representam uma população de 2 Milhões de habitantes. Até a Sabesp assumir as operações destas duas grandes cidades, há poucos anos, o serviço era gerido pelas prefeituras com baixa capacidade de investimento e os cronogramas eram adiados e postergados tendo uma cobertura ínfima de tratamento de esgotos, no passado.
Agora a Sabesp, valendo-se de suas ETEs existentes nas regiões próximas como a ETE-Parque Novo Mundo e São Miguel em São Paulo e a ETE-Barueri no caso próximo a Osasco, pode rapidamente conectar uma grande quantidade de esgoto da rede coletora à essas estações, com investimentos de interligação.
Mas vamos analisar as informações de previsão de universalização para esta região:
São Paulo – A Lei Estadual 17.383/2021, que dispõe sobre a criação de unidades regionais de saneamento básico, conforme estabelece a Lei Federal nº 14.026/2020 do novo Marco do Saneamento. A previsão é que os serviços de água e esgoto sejam universalizados até 2033.
Osasco – Também de acordo com a lei estadual e o Marco do Saneamento até 2033, porém os investimentos na interligação da rede com a ETE Barueri já devem mostrar resultados a partir do próximo ano.
Guarulhos – Universalização de coleta e tratamento de esgoto até 2026, segundo acordo entre Prefeitura/Sabesp/Ministério Público Estadual
Para a cidade de Mogi das Cruzes administrada pela SEMAE a previsão é 2033 de acordo com o plano municipal de saneamento
Outro investimento importante que está sendo realizado pela Sabesp é o projeto Novo Pinheiros, que irá tratar o esgoto diretamente nos córregos de regiões sem infraestrutura de coleta de esgoto. Córregos estes que desembocam no Rio Pinheiros, um dos principais afluentes do Tietê na RMSP.
A estimativa de finalização é no final de 2022
Porém, adicionalmente aos investimentos, é preciso uma ação firme no sentido da retirada contínua dos lodos das barragens Pirapora e Edgard de Souza, para que não continuem acontecendo estes ataques cardíacos fulminantes no nosso Rio Tiete, aqui na nossa região a cada vez que é dada a descarga na RMSP.
Pois, atualmente cada evento deste, que na verdade é um crime ambiental, as consequências são bem limitadas. A Cetesb avalia, analisa e autua a EMAE. E a multa sai de um bolso de uma estatal estadual para outro bolso da agência ambiental estadual também. Apenas uma troca de rubrica dentro dos órgãos estaduais e por sua vez a Sabesp diz que não tem nada a ver com o assunto, pois está investindo bastante ao longo dos anos.
Mas, resumindo, a questão inicial pode-se ter a esperança de uma melhora significativa da qualidade do Rio Tiete na nossa região nos próximos 5 anos e uma boa qualidade de uma forma progressiva daqui 10 a 12 anos.
Essa é a nossa esperança de ver um Rio Tietê vivo e saudável.
Crédito imagem: Rovena Rosa / Agência Brasil
COMMENTS
ADD your COMMENT